Foi andando pelos imensos corredores do Aeroporto Internacional de Guarulhos, levando meu namorado ao portão internacional que tinha como destino final o Haiti, que pensei neste Post.
Estava me lembrando da minha visita à esta ilha, que por uma ironia do destino se encontra no Caribe, em agosto de 2007. Vieram a minha mente alguns rostos muito nítidos, os rostinhos das crianças que conhecemos e do contato tão rico que pude ter com elas.
Lembro-me de estar andando por um das vielas de Port-Au-Prince, numa tarde mais do que ensolarada, nosso caminho passava por uma escola, uma casa vazia e toda quebrada, os destroços das mesas e cadeiras na entrada pareciam fazer parte da decorção de tão fixos que eram, pareciam estar ali há anos. Também não pude evitar o sentimento de ser o centro das atenções, os olhinhos das crianças pareciam não entender minha cor, a cor dos meus cabelos, minhas roupas e outras coisas… Mas não precisei de muito auxílio para atravessar esta barreira. Com apenas algumas palavras (e um tradutor!!) consegui juntar um grupo de aproximadamente 3o crianças que estava perambulando pelas ruas.
Fiquei sem entender a facilidade com a qual conseguimos reuni-las na ali. Eu não tinha nada nas mãos, não estava distribuindo folhetos, brindes ou nada do tipo. Não estava cantando, nem o meu violão eu tinha comigo, e com certeza naquele calor e nas condições em que estava hospedada, também não foi a minha beleza que os atraiu.
Mas mesmo assim elas se juntaram e ficaram esperando, querendo saber quem eu era, o que eu tinha pra dividir, qualquer coisa. Queriam qualquer coisa. Ao juntá-las, contei-lhes uma história da bíblia que minha mãe me contou quando eu era criança. No final da história, ninguém parecia cansado, e os olhos ainda eram fundos e agora cheios de expressão, pareciam querer me contar mais e mais.
Foi muito difícil para mim esta viagem. O tempo não parecia ser nem perto de suficiente! Mais tarde naquele dia, brincamos junto com as crianças e eles passaram a tarde brincando na nossa porta, tão próximos e tão distantes. A minha história com aquelas crianças acabou naquela mesma semana, mas fico pensando como aquilo pareceu acrescentar tanto à minha vida, e também à delas.
Não sei dizer ao certo se foi neste dia que nasceu a minha paixão pela educação, mas posso sim contar que aqueles olhos são a grande motivação do meu empenho em relação ao entendimento pleno de uma prática pedagógica que marca, e traz esperança.
O Haiti é um país que sofre com os diferentes problemas causados pela miséria e pobreza. A água limpa é um luxo, comida é banana, a rua e o lixo se confundem e a carência não é de dinheiro, é de tudo. É um lugar cheio de pessoas na busca de uma esperança que os salve daquele enorme vazio econônomico e social. Só quem já esteve lá, pode descrever o que há e te faz querer voltar.
Algumas notícias sobre o Haiti:
“Segundo o Ministério da Saúde e da População haitiano, a duração média de vida dos habitantes do país é agora bastante mais alargada do que há 50 anos. As autoridades sanitárias de Port-au-Prince dizem que em 1950 a média de idade dos homens no Haiti era de 36 anos, enquanto hoje se eleva aos 50. As mulheres também passaram dos então 39 anos de média de vida para os actuais 56. Os dados sobre a alfabetização no país também são positivos e registam um nítido crescimento. Basta pensar que, ainda em 1950, os analfabetos constituíam 90 por cento da população, percentagem que desceu para os actuais 50 por cento.”
http://www.audacia.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEuyVZpAkyEvjBEiAc
“As crianças nascidas no Haiti têm maiores probabilidades de morrer durante a primeira infância do que em qualquer outro país do hemisfério Ocidental, segundo “A infância em perigo: Haiti”, um relatório lançado hoje pela UNICEF.
‘Há poucos lugares no mundo onde é mais difícil ter uma infância saudável do que no Haiti,” declarou Adriano González-Regueral, Representante da UNICEF no Haiti. “A percentagem de crianças da América Latina e Caraíbas que nasce no Haiti é de apenas 2%, porém, neste país morrem 19% das crianças menores de cinco anos de toda a região. É de longe a maior taxa de mortalidade de menores de cinco anos da região, com 117mortes por cada 1.000 nascimentos’.”
http://www.unicef.pt/artigo.php?mid=18101112&m=3&sid=1810111216